quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Leitor poético, teor poético. Entre-caminhos cruzados.





Penetra surdamente no reino das palavras

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Drummond

Importante fala a dos que, atualmente, oriundos de solo brasileiro, podem denominar-se leitores constantes e reflexivos. Embora reflexão seja condição sine qua nom para uma leitura de qualidade, seja de que obra for, esta sofre os filtros que ganhamos durante os anos imersos em uma sociedade de reprodução, de consumo, metafisicamente voltada para si. Conseguir libertar-se destes filtros constitui hoje uma das maiores tarefas do leitor reflexivo e comprometido com a descoberta da obra, e a este leitor chamo, a partir de agora, leitor poético, pois, conforme sua pré-disposição para a abertura, escreve, em uníssono ao autor, a obra lida. Fernando Pessoa discorre:

“Não conheço prazer como o dos livros, e pouco leio. Os livros são apresentações aos sonhos, e não precisa de apresentações quem, com a facilidade da vida, entre em conversa com eles. Nunca pude ler um livro com entrega a ele; sempre, a cada passo, o comentário da inteligência ou da imaginação me estorvou a seqüência da própria narrativa. No fim de minutos, quem escrevia era eu, e o que estava escrito não estava em parte alguma"(Fernando Pessoa – Livro de Desassossego)

Gostaria de destacar do trecho acima as frases “não precisa de apresentações quem, com a facilidade da vida, entre em conversa com eles” e “No fim de minutos, quem escrevia era eu, e o que estava escrito não estava em parte alguma“. A facilidade da vida é expressa por Fernando Pessoa como a disposição necessária para a leitura e a conseqüência disto é a manifestação de uma obra totalmente nova, uma obra que vigora no entre do leitor poético e da obra lida. Entretanto, quem são estes leitores? Como identificar esse leitor dentro ou fora de nós mesmos? Como dito no início, o trabalho necessário para a construção de um ser-poético é um trabalho do qual demanda, entre outras coisas, esforço, auto-conhecimento e daimon, um espantar-se necessário à abertura ao novo ainda que o novo esteja travestido de velho, de já visto. Neste sentido, a poética foca suas atenções e verte seus esforços, a saber: “Ser poeticamente não é pro-curar ou achar um porquê, mas florescer e desabrochar cada um em sua plenitude” (Castro, Manuel ) .

Cabe ressaltar então que o caráter inter-disciplinar do estudo poético busca, pelo diá-logo com a obra artística, essa plenitude e não se prendendo aos limites de uma tradição segmentária-científica jamais encontrará uma verdade metodológica. Mais do que isso, buscará o sentido primeiro, digerindo cada palavra para que esta retorne em forma de amplitude de sentido em um movimento constante pela linguagem. Auscultar a obra de arte é mantê-la viva. Cuidar em permanecer no caminho liminar é cuidar para estar aberto à escuta da linguagem, morada do ser. Há os que questionam aqueles que buscam no poético a via tortuosa para o estudo literário-artístico. Há os que, com os olhos cerrados, negam e ridicularizam esse caminhar que não busca encontrar o destino, que não busca ser classificável ou utilizável. Que encontra no nada mais sentido do que qualquer teoria descritiva. Contudo os que julgam e rotulam – sendo igualmente passíveis de rotulação – preferem, não por ignorância, mas antes por opção, não reconhecer a validade e a importância de um estudo tão estrangeiro aos conceitos pelos quais baseou toda sua experienciação acadêmica.

Qual é a função da obra artística literária – já que não basta escrever para produzir literatura relevante – neste percurso para o entendimento do ser? Primeiramente iremos destituir da obra o caráter de função no sentido utilitário do termo. Uma das primícias básicas para um debruçar-se poético é a recolocação das palavras em seus devidos lugares. O ataque ao metafísico não é um ataque bélico, mas uma necessidade urgente de desvencilharmo-nos das amarras cartesianas; de um sistema dicotômico no qual fomos criados-moldados-treinados. Alberto Pucheu em seu texto Literatura, pra que serve? aponta algumas possibilidade de apreensão:

“A literatura é um caminho vital intensivo e progressivo de vida. Um dos caminhos, um caminho privilegiado. Por esse caminho, chega-se a vida, não como uma última paragem, estanque, a ser atingida, mas como o que já está, desde sempre, presente, em movimento, mas não conseguimos, habitualmente, vivenciar.

...

A literatura se confronta com nossa individualidade, enfrenta-a, ataca-a. Por isso, ainda que em nome da vida, ou melhor, sobretudo por estar em nome da vida, investindo-nos, ela é tão temerosa.

...

Esses são os dois vetores intensivos de vida para os quais serve a literatura: o riso do sempre risível das propriedades individuais e a alegria de um começo vertiginoso.”

Em sua última versão revisada pelo autor, Formação da Literatura Brasileira, de Antônio Cândido, o autor classifica literatura como “um sistema de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as notas dominantes duma fase. Estes denominadores são, além das características internas, certos elementos de natureza social e psíquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgânico da civilização.” Este trecho é parte da introdução do livro sobre a qual o autor faz a seguinte observação “A leitura desta ‘Introdução’ é dispensável a quem não se interesse por questões de orientação crítica”. Seria apropriado afirmar que negamos a validade da definição de literatura proposta por Antônio Cândido? Não. Esta é uma verdade, que se aplica em determinado nível de apreensão da realidade. Aqui, entretanto, o ponto de vista apresentado reduz a presentificação literária enquanto “caminho vital intensivo e progressivo de vida”. A necessidade de moldar um objeto para que este então caiba em sua determinada classificação é um movimento que se demonstra castrador de significados. A similaridade do discurso do professor Pucheu com o discurso poético não o é sem razão, é a comunhão de um pensamento com o ser pensado, onde não busca delimitar a literatura no tempo e no espaço, mas antes abrir a literatura como espelho do ser, convidando quem lê a um questionamento inclusive acerca do que está ali dito.

Encarar a obra transgredindo a norma é prioritariamente um desafio. Para Manoel de Barros,

O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada
de "O Guardador de Águas"

É nesta tensão que nos abrimos ao caminho pelo entre, a terceira margem onde as palavras dizem a que vieram e esfacela a condição sujeito/objeto. A imagem da clareira, da encruzilhada surge a fim de nos lançar de encontro à linguagem. Escurecer os termos em vez de clareá-los é o benefício que nos dá o poeta (o fingidor por excelência) de podermos, nós, buscarmos em seu texto o nosso próprio texto. Clarear significaria aí informar e apagaria a possibilidade imanente à obra poética. Na teoria busquemos informação, na poesia buscamos sermos lançados na encruzilhada. Pra Pucheu,

“Na encruzilhada, corpo, literatura e vida não manifestam nenhum próprio individual – é o impróprio que ela faz aparecer. Nela a literatura não aparece como mediação em relação a vida, separada de vida.

...

A encruzilhada: a indiscernibilidade experimentada. O que conta portanto, não são os termos – literatura-corpo-vida: o que conta é apenas a encruzilhada, inescapável, a indiscernibilidade experimentada, inadiável.”

Se os entre-caminhos poéticos são os caminhos apresentados como necessários a uma ausculta do ser na obra. Se na literatura manifesta-se a alethéa em seu movimento de velar-se/desvelar-se/velar-se. Se na encruzilhada encontramos o nada, possibilidade de tudo, o leitor poético será um leitor que não necessariamente deverá banir de seu espectro cultural uma apreensão histórico-analítica de uma obra, pois esta está posta. Contudo, não sendo motivo de suas reflexões, saberá per-correr todos os meandros literários, sem entraves pré-concebidos e lançando-se no entre como navegador experiente que navega sob a cortina do nevoeiro. A poética visa o alargamento dos sentidos e não seu contrário, como alguns podem achar. Debruçar-se sobre a obra auscultando o que ela tem a dizer não é uma análise descompromissada e, portanto desprovida de valor. Ao leitor poético é caro um mergulho consciente sem divagações vazias, mas, sobretudo, sem fechar o sentido da obra. Esse limiar, difícil, por vezes, de caracterizar compreende o maior motivo de incompreensão por parte do leitor destreinado que não consegue em uma primeira leitura compreender a abordagem de uma interpretação poética, abandonando-a. Em seu texto Por que ler?, Manuel Antônio de Castro faz referência a um famoso personagem de Rabelais: Gargantua, “através do qual criticou o decorar muito e ter muitos conhecimentos sem qualidade. Por isso dizia que não é preciso ter uma cabeça muito cheia, mas bem feita”. Mais adiante prossegue:

“Para que o ler não se torne inacessível e muito difícil, o leitor deve encarar essas dificuldades com naturalidade, partindo dos significados mais repetidos e simples para os mais ricos e complexos. Mas jamais deve abrir mão da reflexão, da metabolização das palavras e seus sentidos”

A familiaridade que se pode encontrar entre o discurso poético e o discurso filosófico é verídica tendo em vista a acepção original do termo como mostra-nos Heidegger em Que é isto – a filosofia?:

“A palavra grega philosophía remonta à palavra philósophos [que] foi presumivelmente criada por Heráclito. O elemento específico de philein do amor, pensado por Heráclito, é a harmonia que se revela na recíproca integração de dois seres, nos laços que os unem originariamente numa disponibilidade de um para com o outro”

Aliado a esta idéia acrescentamos o sentido de sophia com um saber que não é qualquer saber, mas sobretudo aquele do aedo, do poeta original. Posto isso, é correto ligar o estudo de poética à filosofia fundando assim um diálogo construtivo inter-disciplinar e não nos moldes histórico-filosóficos tão difundidos atualmente. A busca por um saber que vigora na obra, mas não se restringe a ela é, naturalmente, comparável a esta filosofia autêntica, buscada dos pensadores originários

Caminhar no entre sem se deixar levar pelos caminhos dos “ismos” do mercado, não constitui tarefa fácil para o leitor poético. Fernando Pessoa sentencia: “A inacção consola de tudo. Não agir dá-nos tudo. Imaginar é tudo, desde que não tenda para agir”. Sair da inércia, do pré-estabelecido é o primeiro movimento capaz de fazer-nos lançar mão do já dado para o caminho do desassossego inerente a quem saboreia a vida e maravilha-se com ela. Estar na encruzilhada é para este leitor, diferentemente do senso comum, o lugar de uma buscada inquietação. É onde leitor-poético e obra-poética encontram-se dialogam. Ouvindo o silêncio. Vigorando na linguagem.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Caetano Veloso ; Haiti

Sobre gente e pessoas

A alma peca por abandonar o corpo quando a dignidade de ser humano é solicitada.

Aquele sangue é nosso e a mancha que ele produz não sairá de nossa terra, não é lavável, não é renovável, não é desprezível.

Aquela gente sou eu. Aquele outro me tem e não sabe que em seu corpo vigora parte de mim, que o que verte saiu de minhas veias, que o que foi maculado marcou a ferro onde jamais cicatriza.

Somos um e lutamos por ser cada um. Quando não existir mais ninguém, nem aí serei só eu. Já não serei. Já não importará.


A favela está em guerra, a cidade sitiada grita e se (mal)organiza. Meteram o dedo em seu pudim. A guerra chegou aos cercadinhos classe média, mesmo pagando aquele condomínio que custa os olhos da cara.

Aos 19 somos meninos se nosso pai pode nos dar carro e dinheiro. Matamos índio, batemos em qualquer um que não tenha alma como nós. Crianças que precisam de uma lição. Ai, ai, ai, assim não pode!

Aos 16 somos adultos se nossa mãe tem que nos deixar tomando conta dos irmãos menores enquanto trabalha para ganhar um salário mínimo e talvez até ganhar umas porradas de algum playboy antes de voltar para casa.

Somos comoção nacional se altos, belos e fortes.

Somos notinha de jornal se fracos, pardos e pobres.

Estamos doentes... Doentes da doença do eu.

“Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me fez ouvir o primeiro tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina - porquê eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.”

Trecho de “Mineirinho” de Clarice Lispector

foto: Jornal O Globo on line

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Arranjos para Assobio - Haroldo de Campos e Ezra Pound

Sem tempo para postar, deixo-lhes uma mostra do trabalho do grupo Arranjos para Assobio.

Bom apetite.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Ontem ouvi uma pessoa que perguntava o porquê de nós, estudiosos de literatura e brasileiros, passarmos nosso tempo a estudar e perguntar pelas questões do Ser enquanto nosso país passa por crises sociais tão graves.
Ora, ora, caro estrangeiro, nossos filhos passam fome e muitos (não o bastante e não os que deveriam) lutam para combater esse mal.
Há, entretanto, uma fome menos ruidosa, mas tão devastadora quanto a outra, pois fomentadora da primeira. Viestes ao submundo aprender o trivial ou o trivial é tão corriqueiro que já não o pode enxergar?

A propósito, Por que da sensação de que algumas lutas sociais com as quais nos deparamos têm um vazio identitário imenso?
Nunca se prendeu tanto e em um movimento contíguo nunca se soltou tanto.
Como diria meu pai: porca miséria!

Penso ser (sempre) um momento oportuno para a re-leitura desta crônica do Machado.

Bom divertimento!!!!!!





Machado de Assis

O SERMÃO DO DIABO

1893, setembro

Nem sempre respondo por papéis velhos: mas aqui está um que parece autêntico; e, se o não é, vale pelo texto, que é substancial. É um pedaço do evangelho do Diabo, justamente um sermão da montanha, à maneira de São Mateus. Não se apavorem as almas católicas. Já Santo Agostinho dizia que "a igreja do Diabo imita a igreja de Deus". Daí a semelhança entre os dois evangelhos. Lá vai o do Diabo:

"1º E vendo o Diabo a grande multidão de povo, subiu a um monte, por nome Corcovado, e, depois de se ter sentado, vieram a ele os seus discípulos.

"2º E ele, abrindo a boca, ensinou dizendo as palavras seguintes.

"3º Bem-aventurados aqueles que embaçam, porque eles não serão embaçados.

"4º Bem-aventurados os afoitos, porque eles possuirão a terra.

"5º Bem-aventurados os limpos das algibeiras, porque eles andarão mais leves.

"6º Bem-aventurados os que nascem finos, porque eles morrerão grossos.

"7º Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e disserem todo o mal, por meu respeito.

"8º Folgai e exultai, porque o vosso galardão é copioso na terra.

"9º Vós sois o sal do money market. E se o sal perder a força, com que outra coisa se há de salgar?

"10. Vós sois a luz do mundo. Não se põe uma vela acesa debaixo de um chapéu, pois assim se perdem o chapéu e a vela.

"11. Não julgueis que vim destruir as obras imperfeitas, mas refazer as desfeitas.

"12. Não acrediteis em sociedades arrebentadas. Em verdade vos digo que todas se consertam, e se não for com remendo da mesma cor, será com remendo de outra cor.

"13. Ouvistes que foi dito aos homens: Amai-vos uns aos outros. Pois eu digo-vos: Comei-vos uns aos outros; melhor é comer que ser comido; o lombo alheio é muito mais nutritivo que o próprio.

"14. Também foi dito aos homens: Não matareis a vosso irmão, nem a vosso inimigo, para que não sejais castigados. Eu digo-vos que não é preciso matar a vosso irmão para ganhardes o reino da terra; basta arrancar-lhe a última camisa.

"15. Assim, se estiveres fazendo as tuas contas, e te lembrar que teu irmão anda meio desconfiado de ti, interrompe as contas, sai de casa, vai ao encontro de teu irmão na rua, restitui-lhe a confiança, e tira-lhe o que ele ainda levar consigo.

"16. Igualmente ouvistes que foi dito aos homens: Não jurareis falso, mas cumpri ao Senhor os teus juramentos.

"17. Eu, porém, vos digo que não jureis nunca a verdade, porque a verdade nua e crua, além de indecente, é dura de roer; mas jurai sempre e a propósito de tudo, porque os homens foram feitos para crer antes nos que juram falso, do que nos que não juram nada. Se disseres que o sol acabou, todos acenderão velas.

"18. Não façais as vossas obras diante de pessoas que possam ir contá-lo à polícia.

"19. Quando, pois, quiserdes tapar um buraco, entendei-vos com algum sujeito hábil, que faça treze de cinco e cinco.

"20. Não queirais guardar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consomem, e donde os ladrões os tiram e levam.

"21. Mas remetei os vossos tesouros para algum banco de Londres, onde a ferrugem, nem a traça os consomem, nem os ladrões os roubam, e onde ireis vê-los no dia do juízo.

"22. Não vos fieis uns nos outros. Em verdade vos digo, que cada um de vós é capaz de comer o seu vizinho, e boa cara não quer dizer bom negócio.

"23. Vendei gato por lebre, e concessões ordinárias por excelentes, a fim de que a terra se não despovoe das lebres, nem as más concessões pereçam nas vossas mãos.

"24. Não queirais julgar para que não sejais julgados; não examineis os papéis do próximo para que ele não examine os vossos, e não resulte irem os dous para a cadeia, quando é melhor não ir nenhum.

"25. Não tenhais medo às assembléias de acionistas, e afagai-as de preferência às simples comissões, porque as comissões amam a vangloria e as assembléias as boas palavras.

"26. As porcentagens são as primeiras flores do capital; cortai-as logo, para que as outras flores brotem mais viçosas e lindas.

"27. Não deis conta das contas passadas, porque passadas são as contas contadas, e perpétuas as contas que se não contam.

"28. Deixai falar os acionistas prognósticos; uma vez aliviados, assinam de boa vontade.

"29. Podeis excepcionalmente amar a um homem que vos arranjou um bom negócio; mas não até o ponto de o não deixar com as cartas na mão, se jogardes juntos.

"30. Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e as observa, será comparado ao homem sábio, que edificou sobre a rocha e resistiu aos ventos; ao contrário do homem sem consideração, que edificou sobre a areia, e fica a ver navios..."

Aqui acaba o manuscrito que me foi trazido pelo próprio Diabo, ou alguém por ele; mas eu creio que era o próprio. Alto, magro, barbícula ao queixo, ar de Mefistófeles. Fiz-lhe uma cruz com os dedos e, ele sumiu-se. Apesar de tudo, não respondo pelo papel, nem pelas doutrinas, nem pelos erros de cópia.

in A Semana - Gazeta de Notícias - 04/09/1892.

Fonte: A Semana - Machado de Assis - W. M. Jackson Inc. - 1946



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terça-feira, 29 de maio de 2007

Emenda ao post anterior (coloboração do prof. André Dias) :

"Apenas uma pequena correção com relação ao filme Quase Dois Irmãos: o Paulo Lins é um dos roteristas e a direção é de Lúcia Murat , que também assina o roteiro junto com o Paulo."

Foi mal, professor. Agente não vamos mais errar.

Agradicida pela ajuda.

segunda-feira, 21 de maio de 2007








Oh Mímesis


Gozamos, nestes tempos tecnocráticos, do benefício da ignorância. Brasileiros então, fomos agraciados com um passado imaculado – já que inexistente – e podemos assim singrar os rios da vida alheios aos acontecimentos e sempre na confortável posição das pobres vítimas.

Mas por que, meu Deus, por que algumas pessoas não gostam da calmaria e vêm nos incomodar com coisas tão chatas inerentes à realidade?

Ocorre que de uns tempos para cá vem se desenvolvendo um neo-cult-engajamento que tem tratado de relembrar aos desmemoriados ou seus herdeiros que o Brasil não é um filho bastardo do Istaduisunidus que tem como ama de leite a Globeleza; e que além de passado possuímos também um presente-ausente tão digno quanto o outro da atenção do grande público.

Neste sentido agracio neste blog dois representantes desse movimento pró-mimesis: A peça Rasga Coração do Vianninha e o filme Quase dois irmãos do Paulo Lins. Claro que não foi aleatória a escolha. Acontece que na mesma semana vivenciei as duas obras e, transbordando sentimentos contraditórios, emocionei-me com o material de que fomos feito: nossa história. A ambos dou meu selo JAMM de qualidade cultural e artística; entretanto, há que se ressaltar que as obras, de certa forma, se completam cronológica e historicamente. A peça passeia lindamente da década de 30 até 70. O filme, de 70 até 2000. Em ambos, cada qual em seu gênero, os conflitos nacionais são mostrados magnificamente como pano de fundo para os reais problemas nossos de cada dia. O interpessoal. O familiar. Conflitos de gerações e o conflito da pessoa - ladrão, guerrilheiro, dona-se-casa, estudante. Não importa – com ela mesma em busca de respostas que jamais poderão ser respondidas, questões para as quais não há nem pode haver uma só resposta sem que esta se revele incompleta.

Clap-Clap. Belíssimo.

Fazendo uma releitura: Acenderei sete velas e rezarei dez contos de Rosa em louvor à Mímesis.

terça-feira, 20 de março de 2007

CRONOS! A CULPA É DELE!


É, eu sei que tenho caído nas astúcias de Cronos, este bom filho da puta que tem dado menos a mim que eu a ele.

Incomoda-me, mas não tanto quanto gostaria um deus pragmático que não ousa olhar nos olhos das almas livres que, se o conhecem, desmerecem-lhe do respeito pretendido. Pois então, faça pressão a impor-me medida... Minha mãe também tentou e depois dela outros também tentaram.

Faça sua parte e mantenha sua teocondição. Ares virá a meu socorro (ou não) e voltarei a postar em meu blog.

: P

ARES (Não parece o cara de "Gangs de Nova York"? - Daniel Day-Lewis)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007


"Diamantes de Sangue" é um bom filme.
Ótimas atuações em um filme desses que estão na moda (de mostrar a miséria alheia) onde o american-white-good-man salva os não-eles da própria miséria. Tudo bem, né. Eles não cansam disso? Eu sim. E os meninos com metralhadoras... Diretamente de "Falcão" para as telas do mundo. Serra Leoa é aqui?
O quase final é bom, o final é meio assim, assim. Acho que estou ficando uma espectadora meio chata.
Já pensou se o Bush vê o filme? Vai querer invadir... Pô, pra que tanto mato? Deve ser para esconder fábricas fordianas de bombas nucleares! Ele entra com seus meninos, resolve o problema de superpopulação, ajuda a se livrar daquele mal que são os diamantes, tudo em nome da democracia cristã.
Meu consorte Claudio disse que filme americano está igual novela da Globo, se precisa de um ator negro, são sempre as mesmas figuras... É o show business, querido....
Mas, o filme é bom.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007


Certo ou errado

As pessoas... Sempre as pessoas.... Querem tudo certo e a maioria sempre sabe o que é certo. Mas porque ‘os certos’ não coincidem? Porque não! E sabe o que isso cria? Uma legião de pessoas erradas, pois todos estão errados na visão de alguém e todos estão certos em sua visão e na visão de outro alguém, e errados e certos ao mesmo tempo, ou não, ou sim, ou talvez.

Nada disso importa. As pessoas são diferença e embora sempre tenha sido assim ainda não fomos capazes de compreender e aceitar esta verdade. Nossa diferença é nossa riqueza. É ela que nos fortalece e aprimora enquanto raça e engrandece e particulariza enquanto pessoa.

Mas, impressionantemente, buscamos a estabilidade, a uniformidade, buscamos padrões e queremos segui-los na tentativa de haver sentido em ser. Transportamos para outros a responsabilidade própria de se fazer sentido.

Buscamos o lendário acerto universal. Já viu aquele comercial onde todos se vestem igual e com o mesmo penteado? Bizarro, né? Bizarrice é o que é um mundo de iguais.

Bizarro e chato.

sábado, 6 de janeiro de 2007

OLHA ELA AÍ! clickclickclickclickclick


Quem já ouviu o soprano de Callas e não se derreteu em sensações? O sorriso, o olhar e a voz..... Ai, ai, ai. Bizet jamais imaginaria sua Carmem tão enormemente representada.
M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A
Muitos hurras para Callas.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Fim de Ano?

Acaba o ano.
O ano do tempo.
O ano das linhas.
No novo o mesmo
Do povo a esmo,
Estorvo de si.
Revolução reveillon
Machados in ment
Marchando em frente
Logout-login.
E o logus – somente –
Irá finalmente
Ser parte de mim.
Gira no mundo
Inebriante, profundo,
Sem meio ou fim
E no giro se espera
Extrair da esfera
O sentido de si.
Mas é findo o ano.
Pobre soberano...
Limítrofe de si.
Impõe-me a medida,
Mas não sabe que a vida
A vida é um sem-fim.
Agora, lendo antes de publicar....
:)